quarta-feira, 11 de março de 2009

Black Lahu village

E lá estávamos nós os dois farangs, a celebrar o ano novo das Black Lahu villages com um dos guias de rafting do Toy (o Jaka) nativo dessa mesma vila. Desta vez havia negócio à mistura e bem que o Toy merecia algum do nosso dinheiro. O tour era ir com as nossas motas atrás do Jaka até à sua vila refundida num vale, assistir aos preparativos para a festa que começava já noite dentro, jantar na casa do Jaka com todos os seus convidados (um exagero deles), direito a whisky de arroz durante a noite, festa e danças tradicionais, dormida no chão de uma das cabanas, pequeno almoço e um trekking de 6 horas pelas montanhas que cercam a aldeia. Tudo por pouco mais de 20 euros, sem mais palavras....
Dia seguinte tínhamos que iniciar a nossa rota de volta a Chiang Mai pelo mesmo caminho. Só para terem uma ideia como os nossos dias foram preenchidos,tínhamos conhecido uma pessoa que fez o mesmo loop que planeamos para 8 dias em apenas 4 dias. Nós apenas conseguimos fazer pouco mais de um quarto do loop e acabamos por ter de voltar pelo mesmo caminho até Chiang Mai. O coitado do Germain não aguentou o porco preto cru misturado com courato também cru que comemos na noite e no pequeno almoço e teve que fazer toda a viagem de regresso com uma dor de barriga descomunal. Eu tive uma viagem mais descansada, furou-se o pneu da minha mota no meio do nada e quando pensava que estava tudo perdido para mim, parou uma carrinha de caixa aberta que seguia para Chiang Mai e que se disponibilizou a carregar-me a mim e à moto até lá (ainda faltavam mais de 100 km).
Já em Chiang Mai foi começar a preparar todos os passos para viajar até à Indonésia, o meu próximo destino. Para trás ficou um país que me surpreendeu pela positiva pelas pessoas e lugares. Afinal é possível fugir dos roteiros convencionais em destinos muito turísticos se se tiver vontade e a sorte de conhecer as pessoas certas. Tantos sítios ficaram por visitar e coisas por fazer, na realidade apenas explorei dois pequenos pontos do Norte e Sul deste vasto país. Fiquei com vontade de voltar, quem sabe se ainda durante esta viagem, afinal de contas tenho ainda quase dois meses pela frente...

Red Lahu village (between Pai and Mae Hong Son)

Dois dias depois, por mera casualidade paramos numa vila de estrada para almoçar e acabamos a falar com o Toy, uma das pessoas mais simpáticas que já conheci. Dizia-se um amante da natureza e possuía uma empresa para fazer white water rafting. Esta era a época seca e por isso estava na sua época morta. Quando percebeu o que procurávamos em termos turísticos desenhou-nos um croqui sobre como chegar a uma aldeia remota. E arrisco-me a dizer que mais remota na Tailândia deve ser difícil... Uma das Red Lahu villages, aldeia de antigos refugiados do Tibete que se instalaram na Birmânia mas que devido aos constantes conflitos internos na Birmânia, acabaram por se instalar nas montanhas da Tailândia, bem perto da fronteira. No final do caminho e da aldeia, uma escola que alberga e ensina crianças órfãs e não reconhecidas quer pela Birmânia ou Tailândia. Um dos professores, Pimuk falava um Inglês razoável e convidou-nos de imediato a ficar a dormir no chão da sala de aulas, privilégio que aceitamos de imediato. Como era hora de jantar dividiu a ração dos professores connosco. As larvas de formigas também faziam parte da ementa, mas no caso haviam algumas formigas adultas a passear pelo prato, não sei se acabadas de eclodir ou se em busca da descendência perdida. O melhor do jantar, os pedaços de water buffalo frito ou seco. O resto do serão a contar-nos histórias da instabilidade fronteiriça e com perguntas sobre o nosso mundo. Mais tarde levou-nos a visitar a cabana do chefe da aldeia onde estavam reunidos outros ilustres como o xaman, o velho curandeiro da aldeia. Com um intérprete foi muito mais fácil manter conversas e perceber a história do chefe e quais os métodos antigos usado para caçar macacos e elefantes.
No dia seguinte foi-me pedido para dar uma aula de biologia a crianças de 6 anos que não falam Inglês. Tudo menos biologia, passei cerca de 2 horas ensinar números em Inglês e Português e a ensinar o jogo da macaca no chão da sala de aula entre outras palhaçadas que tive que fazer para entreter 12 crianças. De seguida jogo de futebol com os jovens da aldeia que ouviram dizer que havia um Cristiano Ronaldo na aldeia. Cedo se aperceberam que nem todos os portugueses jogam como o CR7 e muito menos eu. Fui logo motivo de chacota e acabei a jogar à baliza.
Depois de um adeus ainda mais difícil, decidimos voltar tudo para trás só para agradecer ao Toy o facto de nos ter enviado a um sítio que, segundo o prof. Pimuk, raramente era visitada por “farangs” (palavra tailandesa para estrangeiro). E eis então que o Toy nos surpreende com um “You want mole?”, of course we want more....

From Chiang Mai to Pai

Para quem nunca fez uma viagem de mota, a viagem pelas curvas apertadas da montanha foi por si só uma experiência e por apenas pouco mais de 30 euros durante 8 dias. No entanto, cedo aprendi que as curvas apertadas das montanhas são para serem feitas inclinadas e não deitadas (literalmente). Resultou num joelho arranhado que de inicio parecia ser inofensivo mas em sítios onde a higiene é parca focos de infecção são sempre a evitar, como vim a aprender mais tarde...
A partir daqui, tantas experiências e emoções que não tenho o tempo nem qualidade para as expor em palavras (como já se aperceberam). Nem mesmo as imagens me podem ajudar, já que não me pareceu bem fazer o papel do turista fotógrafo nas vilas remotas por onde passei.

Só no primeiro dia ao entrar num desvio em busca de uma cascata que estava no mapa, entramos no caminho errado e depois de andar por caminhos de terra acabamos por chegar ao final do caminho onde apenas existia um aglomerado com 3 casas de montanha. De pronto um dos residentes veio ter connosco e começou a falar connosco em Tai e nós apenas dissemos waterfall em Tai (como estava no Lonely Planet). Então ele pediu-nos que o seguíssemos e levou-nos por um caminho que dava a uma outra cascata que também não estava mal. Depois de um banho para refrescar do calor sufocante das montanhas, perguntou-nos se queríamos ficar para jantar através de sinais e mímica e depois se queríamos dormir por lá. Pelo caminho verificou que uma das suas armadilha tinha apanhado um roedor ou sei lá o que animal era, pareceu-me uma toupeira e outra vez por mímica mencionou que já tínhamos jantar. Mas no final a ementa era mais diversa, larvas de formigas com ovos mexidos, uma colmeia grelhada cheiinha de larvas de abelhas entre outros petiscos, claro sempre acompanhados com o sticky rice comido com as mãos. Durante o serão juntou-se a nós uma outra família da casa vizinha e passamos parte da noite a falar através do phrasebook do L.P. E porque na montanha o deitar e o erguer são sempre cedo, no dia seguinte o banho na cascata era demasiado frio. Só mesmo um pequeno almoço nutritivo para recuperar o calor, onde não faltaram as larvas de formiga que sobraram da noite anterior. Depois de um tempo para absorver o que se tinha passado nas últimas horas e um adeus difícil, fizemos-nos outra vez à estrada...

Chiang Mai

Chiang Mai, a capital do norte da Tailândia, base para se realizarem imensas ofertas turísticas que as montanhas têm para oferecer. Trekkings de 1 a 3 dias com pernoita em vilas locais, incluíam passeios de elefante pela selva, visitas às “long neck villages”, aquelas mulheres cheias de colares no seu comprido pescoço. Algumas empresas vendiam percursos por onde nenhuma outra empresa andava, i.e. garantiam que não nos cruzaríamos com outros turistas. Só por aqui dava para ter uma ideia do buzzy que iria ser qualquer uma das opções, Tirei o primeiro dia para descansar e absorver toda a informação turística e pensar no que fazer nos pouco mais de 10 dias que tinha pela minha frente nas montanhas. Estava na Tailândia, logo tudo estava à minha mercê, só tinha que descer as escadas da pensão e escolher qualquer uma das ofertas que me parecesse a melhor... Mas again, não gosto disso. Por outro lado é a época seca e a montanha estava longe do verde luxuriante com quedas de água abundantes. As vilas das mulheres com pescoços compridos ou das com orelhas gigantes parecia-me uma actividade demasiado circense. Para ires independente pagas à entrada da vila e depois podes pousar ao lado delas e tirar fotos com sorrisos amarelos. Estas tribos já só vivem disso, deixaram de realizar qualquer actividade tradicional para se dedicarem ao turismo. Algumas aldeias são até falsas, i.e. apareceram recentemente em pontos estratégicos do mapa turístico. O estar perto de animais de porte como os elefantes e tigres atraia-me, mas confesso que estar montado em cima de um elefante com outros turistas para dar uma volta ao bilhar grande.... Ok, ok, cai na tentação de poder estar perto de um tigre e poder mexer-lhe na barriga, mas tenho uma relação especial com grandes Felídeos... Mas sabem que mais no final fiquei com a sensação de que preferia pagar mais apenas pela baixa probabilidade de ver um tigre no seu ambiente e comportamento naturais.
Posto todos estes dados em cima da mesa, sugeri ao Lucas, um Alemão que conheci na viagem para Chiang Mai se me queria acompanhar numa viagem de mota num loop ao longo da fronteira com a Birmânia, segundo o Lonely Planet, uma “road less traveled”. A mota permitiria ter acesso a sítios mais remotos onde as ofertas turísticas poderiam ser mais autenticas e originais, pensava eu. Além do mais teríamos independência para seguir “off the tracked roads” e quem sabe conseguir chegar a vilas pouco visitadas. Alugamos cada um uma moto durante 8 dias para fazer um loop com cerca de 600 km. Mas antes de sairmos de Chiang Mai tínhamos que fazer uma incursão ao Night Market de Chiang Mai para provar as suas delícias. Era só escolher o mais apetitoso.

Around Krabi

Outra vez, viagem de barco e autocarros de volta para sul mas em direcção a Krabi, a províncias das limestones. Krabi fica do lado oposto a Phuket na grande baía que resguarda as ilhas. A cidade não está tão desenhada para o turismo, ainda preserva traços característicos e modos de vida mais locais (logo mais sujo e suburbano) e consegue-se ficar a dormir por menos de dois euros (mas não é para todos os estômagos). Mas também aqui existem muitas ofertas turísticas e uma vez mais tive que resistir à tentação de uma visita num barco rápido à PRAIA. Quando vi o filme disse para mim mesmo “uhoooo, este é um sítio que eu tenho que ir um dia”, e ali estava ele tão perto e ao meu alcance. Mas depois de falar com este e com aquele, comecei a aperceber-me que o que ia ver era aquela baía paradisíaca apinhada de barcos de todos os tipos e a praia de areia branca completamente coberta de toalhas e pessoas. Hmmmm.... decidi adiar mais uma vez a decisão de ir ou não à praia.
Decidi antes ligar ao Bruno que já trabalha na Tailândia há 3 anos. Nada melhor do que um quase local e que fala a nossa língua para nos dar indicações sobre o que fazer. E não é que ele estava mesmo ali ao lado???? Hat Ton Sai na península de Rai Leh, um paraíso para backpackers, mas especialmente para escaladores. O sítio em si faz lembrar a baía desenhada na animação do Peter Pan e Capitão Gancho (foto da baía) e em frente às tão desejadas limestones acessíveis por kaiak (e logo eu que odeio andar de kaiak...). Obrigadão Bruno e Becks (sua namorada) por me terem dado a oportunidade de escalar e rapelar nesse paraíso.
Obrigado também pela viagem até Ko Yao Noi, uma ilha mulçumana ainda longe de ser invadida pelo turismo, foi bom ver que no sul ainda existem sítios que não nos vêm apenas como uma fonte de Bats. Sem dúvida que faz toda a diferença quando se está com alguém que é do local ou que tem bons contactos, consegue-se usar o tempo de um modo mais eficiente. Doutro modo, como poderia eu saber que havia um barco por dia que levava motos para a ilha. E que maneira de conhecer e explorar a ilha, através de duas rodas. O barco, já de si sobrecarregado, ganhou dois assentos mais confortáveis usados de imediato pelos locais.
Mas as 24 horas de kaiak a explorar todas as limestones nas redondezas foram um dos highlights. Não esquecerei Ko Hong, uma limestone com uma abertura para o seu interior, não mais do que 5 metros de largura e uma brutal lagoa interior. Só visto com uma foto aérea. De cada um dos lados da entrada para a lagoa duas pequenas praias. Numa delas estendi uma rede entre duas árvores, montei a tenda, fiz um fogo, grelhei comida e contemplei o céu estrelado perto do equador. Foi uma daquelas noites...

Duas semanas depois da chegada sentia-me bastante satisfeito com o meu roteiro pelo sul da Tailândia. Tinha conseguido manter-me relativamente afastado do roteiro turístico de massas. Chegava a altura de decidir se queria continuar no sul a explorar outros sítios que me foram dados a saber ao longo da viagem. Bastava por exemplo aceitar o convite do Bruno para me instalar por uns dias na ilha onde está a trabalhar onde apenas existe um resort de tendas “link” passando os dias a escalar, mergulhar e fazer nada. Depois continuar mais a sul a um outro grupo de ilhas onde filmaram a série “Survival” perto da fronteira com a Malásia, mas que devido ao facto de ser um parque natural e estar isolado conseguiu não ser destruído com resorts depois das filmagens. Por outro lado também podia decidir deixar-me ir pelo roteiro turístico e misturar-me com o(a)s milhares de outros backpackers que se fazem à PRAIA ou à tão famosa ilha da full moon Party. Facilmente o meu mês de Tailândia seria passado nas ilhas e praias do sul. Mas eram as montanhas do Norte que me chamavam e é sempre no Norte que se conhecem as tradições mais locais e pessoas locais mais genuínas. Afinal as montanhas estavam apenas a 14 horas de autocarro até Bangkok e a outras 14 horas de comboio de BKK até Chiang Mai.

Surin National Park


Um dia depois da minha chegada à Tailândia lá estava eu, numa das duas pequenas ilhas que formam o parque natural. Estendi a minha pequena tenda no perímetro florestal que protege uma das duas praias destinadas para o efeito. A praia, uma baía fechada com vegetação de mangal, recife de coral, água a 29 ºC e protegida por uma floresta. Sempre praticamente vazia, já que apenas cerca de 40 outras pessoas estavam na ilha e que como eu praticamente não sentávamos o cu na praia por muito tempo. O dia-a-dia era preenchido com curtas viagens nos famosos “long tail boats” para diversas partes das duas ilhas para a pratica do snorkel. O recife de coral, do mais intacto que existe na Tailândia, onde para além de se avistarem tartarugas e tubarões, pude conhecer de perto todos os amigos do Nemo e muitos outros que nunca tinha visto (era o meu primeiro recife de coral a sério). As apneias eram intercaladas com caminhadas pelo único trilho traçado na ilha, a avistar macacos e os dragões não sei do quê, à espera do pôr do sol e a degustar as primeiras experiências gastronómicas locais na cantina da zona (sim, porque já não devem existir sítios destes sem um comerciozinho...).


Ao fim de três noites sentia-me como novo. Tanto dinheiro desperdiçado em acumpultura e massagens às costas, quando o que eu precisava mesmo era de não estar sentado ao computador diariamente e de limpar o cérebro de todos os temas do quotidiano laboral dos últimos tempos... Estando o meu estado mental e físico recuperado, começou-me a “chegar o fogo ao rabo” e já não me apetecia mais apenas praia e apneias. Além do mais aqui não haviam limestones...

O destino

Várias razões me fizeram inclinar para o Sudeste Asiático em detrimento da América do Sul (ambos destinos budget ). Em termos paisagísticos, queria ver as impressionantes “limestones”, pequenas ilhas cheias de vegetação verde que emergem de um mar azul turquesa e também ver de perto o verde único dos “rice paddies”. Em termos culturais, trata-se de um destino mais extremo e diferente daquilo que já conheço e existem também tribos e vilas ainda afastadas do roteiro mais turístico (a ver se isso ainda existe). Tailândia foi o destino da viagem por ser o mais próximo e acessível e com mais escolhas de voos e preços. Phuket por ser a zona das limestones e praias paradisíacas na Tailândia.

Mas foi durante o longo percurso de avião, quando tive finalmente tempo para folhear o amigo do viajante (Lonely Planet), que me apercebi do quão turística é a Tailândia e especialmente Phuket, a Albufeira deles. Não sou nada amigo de sítios demasiadamente turísticos. Não gosto de ter a papa toda feita à chegada e de estar num sítio teoricamente exótico rodeado de westerners como eu. Fascina-me mais a aventura de um lugar pouco explorado, o ter que falar com locais e a ter a sorte de conhecer a pessoa certa para explorar determinado lugar. Aparentemente, não seria Tailândia o destino, mas era too late now, teria que ver como tornear a situação...

E assim estava eu à entrada do aeroporto a pensar o que fazer, a ponderar onde queria passar o primeiro dia e primeira noite para recuperar do jet lag, enquanto centenas de taxistas e operadores turísticos me faziam propostas de tours que iam desde uma visita à PRAIA onde filmaram o blockbuster com o mesmo nome. Até me davam a hipótese de ficar alojado na guest house onde se instalou o Leonardo di Caprio antes de rumar para A PRAIA. Podia também ir numa lancha rápida visitar a zona de limestones onde filmaram cenas de um dos filmes do 007, fazer passeios de elefante pela selva, entre outros maravilhosos tours turísticos com tudo incluído. Tudo me parecia bem, mas o que menos me apetecia depois de todos os stresses para cumprir os vários dead-lines dos últimos meses era competir por um espaço no paraíso com milhares doutros turistas. Precisava de um sítio mais isolado para recuperar energias, nem que isso me custasse mais umas horas de viagem. Saquei do meu livro de notas para verificar o nome de um lugar que me tinha sido sugerido a escassos 10 minutos de entrar no avião. Obrigado Diogo por teres mencionado as Surin Islands... Eram “só” mais 5 horas em dois autocarros até chegar à vila portuária, onde uma viagem de 3 horas de barco me esperaria no dia seguinte. Tentando fazer uma analogia, o mesmo que aterrar em Faro e decidir fugir no mesmo dia ao turismo de massas rumando até às Berlengas. Mas como valeu mesmo a pena....

O início de uma viagem...

Agora imaginem-me no aeroporto de Dusseldorf a entregar o bilhete de ida para A viagem, quando a check-in lady se vira e diz “ I am sorry, but you have to have a return ticket within 30 days cause you don't hold a visa for longer period of time”. Depois de várias tentativas de conversação e de explicações de que a minha intenção era sair da Tailandia antes dos 30 dias do visto para um outro país fronteiriço, as respostas eram apenas “I'm sorry, you cannot fly with us”, “I can't help you” e outras coisas do género. Foi quando já me começava a mentalizar que iria passar apenas 30 dias à Tailandia e o resto dos tão ansiados 90 dias a viajar pelos suburbios de Olhão, que desato a correr pelo aeroporto com as mochilas à procura de internet para comprar uma viajem de saída da Tailandia, não para Portugal mas para outro destino, que aconteceu ser para Jakarta – Indonesia. Podem imaginar as corridas, os stresses e desenrasques que foram necessários para encontrar um ponto de internet, comprar o voo, esperar pelo envio do mail com o comprovativo para o imprimir e conseguir uma impressora, tudo a tempo de ainda conseguir fazer o check in e ser o último a entrar no avião com todos já sentados. Mas como disse o outro “assim começa uma viagem”....

Nunca é tarde demais

Decidir dar este título a este espaço numa espécie de homenagem a um conhecido do primo de um amigo meu, que acabei por vir a conhecer em plena guerra colonial (Angola 1972), que dizia que ao longo da vida ia ficando tarde demais para se realizarem determinados sonhos ou projectos que se ambiciona enquanto mais jovem. Acrescentava que, ao seguir-se um determinado rumo de vida nos vamos ligando a pessoas, relações, trabalhos, responsabilidades e até simples “coisas”, que acabam por dificultar eventuais alterações de rumo em pról desses tais projectos que estavam no imaginário (sim, porque é difícil viver vários rumos em simultâneo). Concluia dizendo que a certa altura já seria tarde demais para os realizar ou que já não seriam realizados na idade certa (convinhamos que esta pessoa tendia q.b. para o pessimismo...).
Foi para o meu espanto que, quando nos encontramos pela última vez (em plena guerra dos 100 dias), tinha uma opinião oposta. Confessou-me que a vida ao longo do seu percurso dá tantas voltas e cambalhotas criando encruzilhadas e logo novos rumos para seguir. E concluiu com uma frase feita: “A vida é traçada pelas oportunidades que nos surgem, mesmo por aquelas que não agarramos”.

Quanto a mim, decidi agarrar a oportunidade de viver um novo ciclo, uma nova história num sítio diferente e longe de tudo que tenho e gosto (muito). Sempre tive curiosidade de conhecer modos de vida de outro sítios neste pequegrande mundo. Não apenas do ponto de vista de um turista, mas viver o dia-a-dia deles, os seus lugares, conhecer as pessoas locais, assim como aqui vivo e me é familiar a praia de Faro ou uma ida ao Farol, à Deserta ou a Sagres, completamente diferente de quem vem, vê, tira fotos e se vai embora. E assim, lá vou eu experimentar o modo de vida nas antípodas e perceber como me dou entre eles.
Ainda antes de virar neste cruzamento, surgiu-me a oportunidade de fazer um pequeno loop no caminho. Este desvio vem na sequência de uma vontade que me acompanha desde sempre, fazer uma viagem daquelas: idealmente 1 ano a viajar, sem planos ou itenerários pré-estabelcidos em vários destinos que moram no meu imaginário. Este meu loop é mais curto, 3 meses de viagem mas que nesta fase da vida me vão saber por muito mais tempo.

Bem vindos

Decidi entrar no mundo da blogosfera. Não tenciono adicionar nada a esta fascinante fonte de in- e até desinformação. Decidi apenas criar um espaço onde possa deixar imagens e escrever algumas notas de experiências ou histórias vividas agora que “lá vai o filas”. Desta forma evito também enviar mails para destinatários que não querem saber de pessoas que andam a viajar (sim porque eu sei que há deles, não é J.S.?). Assim, apenas seguirá este blogue quem tiver curiosidade sobre o meu paradeiro. Se eu chegar à conclusão que apenas a minha família visita o blogue, nesse caso voltarei a bombardear a vossa caixa de mails....