quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Divagações natalícias

Estava mesmo prestes a deixar uma simples mensagem a desejar-vos um Feliz Natal, mas depois comecei a pensar e pronto estraguei tudo... (achava eu que já me tinha deixado disso, do pensar).


O que estaria mesmo eu a desejar-vos se vos fizesse votos de Feliz Natal??? Bem, assim logo à partida seria algo do género “Que te estejas a rir muito (feliz) no dia 24 e 25 de Dezembro (dias de Natal)”. Para uns, os meus votos de Feliz Natal significariam “que enfardes muita e boa comida nos dias de Natal” para outros “que recebas todos os presentes que sempre desejaste nesta altura do ano” há aqueles que pensariam “que estejas reunido com todos os que mais gostas” e ainda há aculoutros que só abririam sorrisos e gargalhadas (felicidade) se tivessem isso tudo junto e no dia de Natal (e este último pormenor é importante, afinal a ideia é que seja um Feliz Natal)...


Mas na realidade quem é que pensa em alguma coisa quando deseja um Feliz Natal a outrem? Estarás mesmo a desejar alguma coisa por exemplo à pessoa que trabalha na loja onde acabaste de comprar o último presente de natal? Ou ele(a) próprio(a) quando te responde “para si também”? Ou quando o desejas até a um familiar ou amigo próximos? Eu acho que é como a célebre saudação universal do dia-a-dia: “então, tá tudo bem?” Na realidade o interlucutor 1 raramente está interessado em saber se o interlucutor 2 está bem e nem o próprio 2 estará quando responde ao 1 “tá tudo, e contigo?” São frases que quando usadas e abusadas acabam por perder significado.


Talvez por isso, por já não significar mesmo quase nada, as pessoas estejam a combinar a imaginação com as novas tecnologias para enviar mensagens de Natal super elaboradas via telemóvel, mail, facebook e até mesmo blogs. E assim em vez de enviar um simples desejo de um “Feliz Natal” reencaminham frases feitas, algumas com mais outras com menos conteúdo natalício. E depois toca de desejar aquilo tudo a todos os que estão na lista de contactos. Porque não???? É de borla e assim até ficam a saber que nos lembramos deles e lhes desejamos coisas boas, nem que seja apenas para os dias 24 e 25 de Dezembro (Natal).


Se entrássemos então na etimologia da questão, o que estaríamos mesmo a desejar a alguém seria um “Feliz Nascimento”, do latin Natale. Mas afinal de contas, o nascimento de Cristo é apenas um detalhe nesta história toda do Natal. Quem é que se lembra desse grande Senhor por estes dias???? Not me... Mas não quero entrar nessa questão da deturpação do actual significado da época Natalícia. Principalmente no Natal, até porque se me porto mal acabo por não receber prenda nenhuma...


Confesso que o que eu gostava mesmo era de fazer uma daquelas jantaradas com a família e com os amigos do peito. Mas apetece-me tanto no dia de hoje como me vai apetecer quando chegar (for) a Portugal já no próximo ano de 2011. Por isso preparem as prendas para essa altura que é para eu sentir o verdadeiro espirito de Natal com vocês.


Mas como sei que há aqueles que gostam e apreciam o significado dos votos natalícios, para eles desejo um “Feliz Natal”, esperem ainda melhor que tenham um “Santo Natal”... Ou não, não esta é que é “Que o espírito do Natal inunde a tua vida e a da tua família” afinal “Natal é tempo de paz e esperança” e por fim há ainda quem diga que “Natal é presentear alguém querido”. Quem é querido, quem é??????


segunda-feira, 29 de novembro de 2010

The way we see it.......

Nova Zelândia já lá vai há quase um ano e desde então os programas de lazer têm-se limitado às redondezas de Townsville e começam inevitavelmente a repetir-se.

Repetição: fazer a mesma coisa que já se fez.

Pode soar a rotina ou monotonia, mas re-desfrutar dos mesmos sítios na floresta ou em ilhas tropicais tem sido como estar a vê-los pela primeira vez. Não, aliás é mesmo como estar a vê-los pela segunda ou pela terceira vez... ou seja vê-los com outros olhos.


Comecei por vê-los com os olhos eufóricos de quem visita pela primeira vez ou de um turista entusiasmado, passando pela visão de alguém que já se sente um “local”, e até já os comecei a ver com olhos de quem já está a pensar que vai chegar o dia em que isto vai deixar de fazer parte do dia-a-dia. The way we see it, faz com que a repetição seja diferente. Estes pontos de vista fizeram todo o sentido quando numa noite especial, num quarto de alguém, li num postal pendurado na parede uma citação de Marcel Proust ‘The real voyage of discovery lies not in seeking new landscapes but in seeing with new eyes.’ Gostei....

A questão que se me deparou então foi, com que “new eyes” quero eu ver as coisas daqui para a frente? A resposta apareceu clara quando me deparei com um texto de um qualquer Zen no maravilhoso mundo do www. Transcrevo aqui a parte mais relacionada com o meu ponto

“The solution is in paying attention to what you are doing now and not thinking about anything else. Now is now. Today is today. Tomorrow will take care of itself. Simply chop the wood and carry the water. That is the essence of survival. (...) It is really just like surfing. Once you are on the wave, all you can do is ride it. You cannot go faster than it and you cannot catch up to the next wave. And, if there is a better one behind the one you are on, it is not yours. Surf the wave you are on.”

Nada de novo, frases feitas semelhantes a estas já lemos ou ouvimos vezes sem conta. Mas uma coisa é saber outra coisa é integrar. Imaginem-se então do lado oposto do mundo, longe de tudo aquilo e de todos aquele(a)s que nos são familiares e tentem perceber o difícil que é evitar que a mente derrape para o passado e simultaneamente se questione sobre o futuro. Então para o Filas, que já o fazia constantemente aí no cantinho confortável....

Mas normalmente estes “momentary lapse of reason” fazem apenas parte de fases ou ciclos da vida. São duas as razões que encontro para estar a viver esta fase: estar a entrar ao de leve no mundo da mindfulness meditation (mas não se preocupem que não vou virar zen) e a outra razão, pelo facto de estar a sentir isto...

Mas divagações Zens à parte tenho saudades vossas e da terrinha que tolhe. Aquando da minha fase “pensar”, questionava-me porque não chegavam cá novas vossas e da terra com mais regularidade e pela caixa do correio. Mas depois apareceu o Chico e disse-me tudo...

Mas como o Natal está aí à porta e apesar dos correios andarem ariscos nessa altura do ano vou ficar de olho (como sempre) na caixa de correio em 1 Nisbet Ct., Aitkenvale, Townsville, 4814 Queensland, Australia.

domingo, 29 de agosto de 2010

São dias assim que…

O que fazer, quando em pleno Inverno o vento sopra abaixo dos 5 nós pela primeira vez em mais de 3 meses? Falta-se ao trabalho e aproveita-se o que isto tem de melhor, apneias no recife e à volta das suas ilhas para depois degustar peixe fresco.


As regras ditam, acordar ainda de noite para prolongar os dias curtos dos trópicos e conduzir com o barco atrelado rumo a norte até a um ponto de entrada na água mais próximo do recife. Durante a semana há uma diferença, não há filas de espera para se pôr o barco dentro de água…


Ainda assim leva entre uma a duas horas de navegação para se chegar a um sítio com recife decente e longe da influência do mangal, logo com melhor visibilidade. Nesta altura do ano o percurso de barco não é nada monótono, basta ir com alguma atenção e é-se presenteado com avistamentos de baleias de bossa, estão no final da época de migração para sul.










Apesar do vento (ou a falta dele) estar de feição para se ir para recifes mais exteriores e mais pristinos, a decisão sobre o sítio pendeu para umas pequenas ilhas (ou pequenos calhaus fora de água) mais perto da costa, logo com mais influência das águas costerias (mais turvas) e mais corrente (faz-me lembrar o Atlântico), mas com a certeza de ver muitos e grandes peixes. Afinal de contas o congelador começava a ficar vazio...

À semelhança de outros dias no mar: pescaria no coral; parar numa qualquer ilha a caminho de casa para filetar o peixe e evitar os trabalhos sujos em casa; não perder a oportunidade de comer peixe fresco e semi-cru, cozinhado apenas no ácido de sumo de lima e vinagre - Ceviche, receita originaria de países cento/sul americanos, neste caso com toque Mexicano; e no final os sorrisos por tamanha dádiva da natureza.

















Seria este um dia como outros (mas não tantos como gostaria), não fosse um pormenor que fez deste um que vai ficar gravado na minha mente para sempre. Estas rochas, onde há mais corrente, menos visibilidade e logo peixe de porte, atraem não só pescadores, mas também outros predadores, aqueles com barbatanas mais aguçadas. Até aqui nada de anormal, mas neste dia de semana em pleno Inverno Townsviliano cruzei-me com o maior tubarão que até então tinha visto ao vivo. Estava à superfície e foi tal o meu espanto quando o vi a passar junto ao fundo que não consegui conter um WOW pelo tubo. Foi um berro de adrenalina, que durou um par de segundos, resultante dum misto de sentimentos: surpresa, respeito, susto, receio, mas também contentamento de ver um grande senhor dos oceanos, daqueles que nos fazem sentir pequenos e vulneráveis dentro do grande azul (que neste caso tinha um misto de verde). Como é normal nestas situações, não deixei de acompanhar a sua trajectória (em sentido inverso à minha) à espera que desaparecesse-mos do meu (mas não do dele) campo de visão. Mas eis que ele resolve inverter a trajectória. Nada que não me tivesse acontecido antes, eles por vezes voltam, movidos pela curiosidade de predador, mas sempre no fundo seguem a sua vida. Este, talvez por se tratar dum Tubarão Touro, que se cruzou com um objecto não identificado à superfície, objecto esse mais pequeno do que ele, resolveu fazer uma investida até à superfície... Distanciavamos-nos talvez uns 10 metros e como tal essa curta investida durou uns 2 a 3 segundos... Tempo apenas para entrar em pânico, começar a dar à barbatana para trás na direcção oposta e pôr a cabeça fora de água aos berros, acho para me preparar para a dor (o único pensamento que me lembro desse curto espaço de tempo quando à posteriori fiz a reconstituição do acontecimento na minha cabeça). E nessa altura quando pus a cabeça fora de água vi parte do corpo do tubarão fora de água junto às minhas barbatanas e a voltar para o fundo. Não fiquei para ver, só nadei para junto do meu colega que ouviu os berros e veio na minha direcção a julgar que estava excitado por ter apanhado um peixe grande... Depois foi nadar uns 200 metros até ao barco sem olhar para trás e a pensar no que tinha acontecido...


Depois de entrar no barco, veio-me à memória o filme “Pulp Fiction”, quando o puto descarrega balas sobre o Samuel L. Jackson e nenhuma delas lhe acerta. Não conseguia deixar de pensar no porquê que ele tinha falhado. Decidi não invocar justificação divina e nem me vou pôr a recitar um determinado excerto da bíblia sempre que me preparar para apanhar um peixe. Penso que o tubarão se deve ter apercebido em cima da hora ou quando sentiu as minhas barbatanas que eu não era aquilo que ele pensava quando estava no fundo e desistiu no ultimo milésimo de segundo...


Fiquei ainda mais convencido desta justificação depois, quando fui pesquisar na net e descobri este vídeo


Agora consigo falar e até fazer piadas sobre o assunto, mas essa mesma noite foi muito mal dormida... Vendo por outro prisma, são dias assim que nos fazem realizar que um segundo diferente pode mudar muita coisa, que eu estou e que é isto que é a Austrália, que não devo estar demasiado confiante com tubarões dentro de água quando estou a apanhar peixes, que esta vida é linda e se ainda não vos disse, que vos amo a todos....

sábado, 10 de julho de 2010

E lá foi um ano na Austrália...

... passou rápido? Levou mais tempo do que é normal? É difícil de dizer, às vezes Maria outras vezes Manuela. A verdade é que apesar de ter tido exactamente o mesmo número de meses, semanas e aproximadamente o mesmo número de dias que todos os outros anos, a noção do tempo muda consoante a circunstância que uma pessoa se encontre. E como as minhas circunstâncias foram variadas ao longo deste ano e desde que saí de Portugal, não consigo chegar a uma conclusão. Decidi investigar…

Li num artigo intitulado "O cérebro e a noção do tempo" que o cérebro humano mede o tempo por meio da observação dos movimentos dos objectos, pessoas, sinais naturais e da repetição de eventos cíclicos, como o nascer e o pôr-do-sol. De acordo com o mesmo artigo, os anos tendem a parecer que passam mais rápido com a idade devido à repetição de experiências e observação de movimentos exactamente iguais a anteriores. O cérebro deixa de processar conscientemente essas repetições, automatiza pensamentos, apaga experiências repetidas que no final deixam de contar no índice de eventos do dia.
Pelo contrário, quando éramos miúdos vivíamos constantemente experiências novas, aquelas que fazem a mente parar para pensar e processar a informação, o que fazia com que o dia parecesse ter sido longo e cheio de novidades, e os anos, esses então pareciam que duravam eternidades.
Resumindo, o que faz o tempo parecer que acelera é a rotina. Quanto mais rotineira a vida, mais difícil se torna de quantificar novidades do dia-a-dia, da semana ou mesmo do ano que acabou de passar num ápice.


Mas rotinas acabam por ser inevitáveis e até mesmo essenciais, já que facilitam muita coisa na vida e acima de tudo permitem ao pobre do cérebro entrar em modo automático aqui e ali. Só que muitas pessoas não conseguem viver sem esse conforto que a rotina oferece, sem esse modo automático e acabam por viver um livro com muitos capítulos repetidos. Não quer isto dizer que a qualidade de um livro com capítulos repetidos tenha que ser inferior a de outros livros com capítulos mais diversos. De facto, se os capítulos são fáceis de escrever e o assunto até é interessante, porquê mudar? Aqui e ali fazem-se uns pequenos ajustes, adiciona-se uma nova personagem de vez em quando e conseguem manter a antenção do leitor. Mas algumas pessoas são mais desconformadas e imaginam para a sua vida um livro com diversos capítulos que contam diferentes histórias, umas boas outras nem por isso, mas que valem por ser diferentes entre si. E no final, apesar de ter aproximadamente o mesmo número de páginas que os outros, é um livro que leva mais tempo a ler, dando a sencação que é mais longo. E importante, um livro que não se consegue adivinhar facilmente o final até se lá chegar.

O que me fez sair “temporariamente” do nosso pequeno rectângulo de conforto não foi o descontentamento com as minhas rotinas. Também sou uma pessoa que gosta do conforto de voltar Aqueles mesmos sítios de sempre e de sobretudo poder estar com Aquelas mesmas pessoas de sempre. Gostava das minhas rotinas cíclicas das estações do ano:

o sentir a chegada da Primavera no Barrocal Algarvio
o viver o Verão "naquelas" praias da Costa Vicentina
e das noites e festas na Ilha do Farol
o contemplar dos pores-do-sol dos dias Outonais ainda quentes e solarengos na Praia de Faro
de passar o Natal rodeado pela grande família, até chegar a altura de organizar a ida à neve com o pessoal.

Tudo muito bom e outro ano começava e mais do mesmo bom, e depois mais, e mais... E como era mesmo bom, foram precisos muitos anos para ganhar coragem para arriscar baralhar as minhas rotinas e voltar a dar, de experimentar novos sinais do passar tempo, de escrever outros capítulos da minha vida, e talvez até de sentir que “parece” que o tempo demora mais a passar.

Olhando agora para trás, foram muitos os sítios que descobri, experiências que vivi e que faziam parte do meu imaginário, pessoas diferentes que conheci, vindas de diversos lugares, com maneiras diferentes de ser, que cozinham pratos diferentes, que sorriem (ou não) com piadas diferentes... De acordo com a tal teoria da noção do tempo, este período deveria parecer que levou mais tempo a passar, tal e qual como quando éramos miúdos. Mas e então onde mora a teoria do que “o que é bom acaba depressa”? Parece que sinto que levou mais tempo a passar, mas que passou depressa... Para baralhar ainda mais esta equação, se os primeiros meses na Austrália foram nesse modo criança, depois de voltar da Nova Zelândia encarrilei na rotina do dia-a-dia de trabalho em Townsville e o tempo passa a correr entre trabalho e algum lazer de fim de semana aqui ou ali. Sinto que o tempo está a passar rápido, mas neste caso não é porque o que é bom passa a correr...
Não é que esta minha rotina seja má, mas confesso que, um ano depois e ao começar a sentir aquela sensação do assentar, que a qualidade da minha rotina fica aquém daquela que tinha aí nesse cantinho confortável. Mas é sabido que nunca dá bom resultado começar com uma nova a pensar na ex e que não se devem fazer comparações directas entre elas (refiro-me às cidades, claro está). Tem que se estar preparado para abdicar de umas coisas para se ganharem outras. E depois de dar algum tempo à nova não nos adaptarmos, há duas opções: escolher outra e mudar outra vez ou voltar para a anterior (esta última dizem que nunca funciona). Eu cá vou tentar trabalhar numa terceira opção, estar comprometido com as duas para poder estar com elas em diferentes alturas do ano. Tenho consciência da dificuldade desta hipótese funcionar, implica sempre uma certa flexibilidade e até um certo parlapier para se agradar os dois lados, mas tenho que experimentar e trabalhar nesse sentido. Este próximo ano vai ser decisivo nesse campo. Entretanto é continuar em busca de experiências e aventuras para que a rotina com a nova não seja sinónimo de monotonia.

Deixo agora as filosofias e trocadilhos baratos de parte e entro na secção: passado um ano como é que eu sei que estou em Townsville, Austrália, outro lado do mundo?

Porque não só se está de cabeça para baixo mas porque quase tudo é ao contrário. Conduz-se do outro lado da estrada, os travões de trás e da frente das bicicletas estão trocados, a rotação da chave na fechadura faz-se para lados opostos ao convencional, estou a dormir quando a maioria da população está acordada (e vice-versa).
Porque só há duas estações do ano e até estas também estão trocadas. Tudo é seco e castanho de Inverno e no Verão chove a sério, tudo é verde e há água que nunca mais acaba (2 fotos da mesma cascata)
Porque posso chamar Mate às muitas pessoas novas que conheço e que nunca me lembro do nome ou porque dou por mim a ter e a usar um chapéu à Crocodile Dundee
Porque se podem avistar cangurus e muitos outros animais exóticos através da janela do local de trabalho.
Porque até folhas podem prejudicar gravemente a saúde. E porque algumas das espécies perigosas que associamos exclusivamente ao mar, aqui existem também nos rios (e vice-versa).Porque já vou ao restaurante Nandos comer frango assado para me sentir mais perto de casa, ou até mesmo como esse grande senhor (o Nando) publicita, para atingir o Portugasmo (http://www.portugasm.com, nao passe a publicidade)

Porque é um país onde os únicos monumentos que existem são frutos em formato gigante
Porque é um pais gigante e que leva uma eternidade para conduzir até à cidade vizinha....
Porque é um país à beira do sobre lotamento populacional e começa-se a perceber a fúria dos locais face à chegada de emigras como eu...

Porque em pleno mundial de futebol, apenas 5% da publicidade na televisão faz alusão ao assunto e felizmente não tenho que engolir publicidades idiotas que relacionam o futebol com por exemplo detergentes...
Porque em pleno mundial de futebol fui assistir a algo mais importante que esse evento, um clássico de rugby entre Queensland and New South Wales. Fui ao pub mais característico e red neck da cidade (foi brutal) e no final do jogo tive quase que implorar para os convencer a mudarem para o canal onde estava a dar um dos jogos do mundial de futebol. Depois desta experiência em primeira mão, consegui perceber porquê que o futebol aqui não vinga. Como é que depois de ver este jogo cheio de momentos carregados de emoção e em que ninguém é expulso (pois é suposto ser um desporto para Homens)...


.... Como é que se pode achar interessante o jogo seguinte com cenas deste género. Tenho que admitir que o primeiro show foi mais espetacular

sábado, 20 de março de 2010

Mais um tornado realidade…

…e um daqueles que me acompanhava há mais tempo, visitar a Nova Zelândia. No meu imaginário os papeis estavam invertidos, viver uma etapa da minha vida nas terras do meio e eventualmente passar umas férias na Austrália. Mas o contrario acaba por servir, até porque como deu para confirmar, as oportunidades devem ser mais escassas num pais dominado por natureza e por ovelhas (10 por cada habitante). Por isso kiwis são chamados pelos Aussies de "sheep shaggers": segundo eles as ovelhas nunca se conseguiriam reproduzir tão rápido sem uma ajudinha...

Kiwi: we fucked you aussie's up in the rugby union!!

Aussie: go fuck a sheep, ya sheep shagger.

Kiwi: leave my mutton out of this...

Mas enfim, apesar da perplexidade de alguns Aussies mais puros, decidi passar as minhas primeiras férias grandes no país vizinho, mas confesso que ainda vacilei entre a NZ e aTasmânia (talvez para depois). O que eu queria mesmo era tirar umas ferias dos trópicos, depois de um ano passado no calor de praias e recifes de coral, saudades imensas de montanha, lagos e até de vestir mais alguma roupa.

Mas antes de rumar para fora do país, tempo para mais uma aventura ao volante à moda Australiana, dois dias seguidos a conduzir até Coffs Harbour, New South Wales, entre Brisbane e Sidney. Ali esperava-me uma semana intensiva de reuniões e brainstorming científico mas também de sessões diárias de surf matinal e por vezes de pôr-do-sol (saudades do pôr-do-sol no mar). Uma belíssima zona costeira selvagem, fora da Austrália tropical, recortada por baías com algumas cidades pequenas mas influenciadas pela presença de uma grande cidade por perto. Deu para reafirmar que Townsville está mesmo perto do cu do mundo... Fez-me lembrar a nossa costa sudoeste, com spots idílicos de surf e mergulho mas onde os golfinhos aparecem para dizer “hey mate” e surfar com o pessoal. Aparentemente os tubarões tambem aparecem mas nao devem dizer “hey mate”. Os relatos de visitas e ataques de tubarões touro e brancos na área deixam uma pessoa pouco relaxada quando se avistam barbatanas dorsais que podem ser de golfinhos ou não).

Mas voltando à NZ, a minha primeira decisão foi viajar apenas na ilha sul. Tinha 21 dias, não é pouco mas também não é muito. Falei com pessoas que fizeram as duas ilhas em menos tempo, mas uma coisa era certa não queria passar o tempo em viagens para fazer “checks” dos sítios e poder dizer que vi a NZ. Com o tempo que tinha, fitei os meus objectivos em caminhar pelas montanhas e visitar a zona dos fiords e a dos glaciares, depois logo se via. E assim foi, chegar e fazer uma viagem de 11 horas de autocarro rumo aos fiordlands no sul da ilha sul. Aqui ia estacionar em Te Anau, na zona dos grandes lagos por vários dias. Primeiros dias eram caminhar durante 4 dias no Kepler Track.

TeAnau_Kepler

Sem querer perder tempo em descansos, fiz para me pegaram às 5 da matina do dia seguinte para 2 dias de kaiak no fiord Doubtful Sound. Como não há estrada até lá, a única maneira de lá chegar é pagar a uma empresa que nos faz atravessar de barco o lago Manapouri duma ponta à outra, para depois pegar num todo o terreno que nos leva até à entrada do fiord. Não é barato, mas era a única maneira de evitar estar num lugar tão místico rodeado de centenas de cruzeiros e barcos rápidos, como acontece no tão famoso primo Milford Sound, de onde surgem quase todos os postais da NZ.... Vale só a pena salientar que essas mesmas fotos são tiradas nas escassas horas de sol por ano que abençoam esta zona dos fiords. Chove cerca de 9000 mm (sim 9 metros) de água distríbuida por 300 dias do ano. Um dos sítios mais chuvosos do mundo...

DoubtfulSound

Estava na hora de rumar a norte com paragem em Queenstown. Uma cidade tipo resort turístico de montanha que vive todo o ano das mil e umas actividades radicais que montanhas, rios e lagos têm para oferecer. Para mim eram demasiadas ofertas em formato de brochuras. Tentadoras, certo, mas depois de uma semana a caminhar e a kaiakar só precisava de baralhar as ideias e de fazer o sangue circular. Fiz uma espécie de base jumping misturado com canyon swing e depois estava pronto para mais montanha. Apanhei boleia até à ponta do lago onde acaba a estrada e começa o Mountain Aspiring National Park. Aqui filmaram muitas das cenas dos anéis e a única maneira de lá entrar é a caminhar, ou então largas a guita em Queenstown para ir numa das excursões de barco rápido, de helicóptero ou de avião e sky diving.........

Queenstown_Glenochy

Não me queria ir desta zona, aqui era O sítio ainda por cima proque o sol voltou no dia seguinte. Mas e o resto da ilha???? Não sei se conseguiria aceitar o facto de estar na NZ e só conhecer uma pequena parte. Diziam-me que a costa norte tinha umas umas praias com floresta a não perder, mas praias... nós temos disso em monte e das boas. No meio da minha indecisão, foi o meu joelho (ou talvez a idade) que me deu a resposta. Depois de tantas subidas e descidas com mochila as costas o meu joelhinho estava a dizer-me para ter alguma calma. Por isso aluguei um carro e subi a costa oeste, passando levemente pelos glaciares até chegar à costa norte.

WestCoast

E por acaso os boatos eram verdadeiros, valeu bem a pena. Um pedaço de costa protegida por parque natural e que só é acessível a caminhar ou pela agua pelos innúmeros water taxis que te deixam em vários spots, ou melhor ainda de kaiak. E impressionante haver um sitio com um pedaço de costa paradisíaca sem estradas. Mas nem por isso deixa de ser muito concorrida, especialmente no verão. Mas era o Setembro deles e optei por instalar-me na extremidade oeste do parque e evitar as zonas mais concorridas.

GoldCoast

Havia uma outra zona que tinha muita curiosidade de visitar desde o momento que apareceu o google earth e comecei a explorar a Nova Zelândia virtualmente, os Marlborough Sounds. Uma zona de costa toda recortada e cheia de ilhas. Nesta fase, caminhar estava mesmo fora de questão (my poor knee) e então optei pela bicicleta. Aluguei uma bicicleta, metemos-nos num barco até à ponta duma das centenas de penínsulas e passamos dois dias em todo o terreno até à outra extremidade da península e aí apanhar um outro barco de volta até a minha base Picton. E já estava quase esquecido do bom que é fazer um todo o terreno, especialmente os downhills a velocidades que se te distrais com as vistas corre-se o risco de se ficar integrado na paisagem...

Marlborough Sounds

Por fim restavam apenas dois dias antes de rumar ao aeroporto de Christchurch. Uma paragem em kaikoura, uma península banhada por uma mar cheio de vida e por isso ponto de encontro de vários espécies de mamíferos marinhos. Nadar com golfinhos não estava nos meus planos, já o tinha feito antes nos Açores de borla e numa água quente e transparente, porquê pagar para o fazer num sítio com água fria e turva? Porque ali nada-se com centenas deles curiosos com o nosso comportamento. Exibem as suas acrobacias à nossa volta, saltam por cima de nós e se os tentares imitar ficam tão excitados que se aproximam ao ponto de se lhes poder tocar. Foi uma experiência... Por outro lado, sabia que em Kaikoura estava a viver um tuga. É sempre bom praticar o português falado do outro lado do mundo e ter um quase local permite sempre disfrutar de mais coisas dos sitios. Obrigado Manel por me abrigares e por emprestares o material de apneia para entrar nesse mar gelado em busca dos Pauas para a nossa janta.

Kaikoura

No final, tempo de fazer o balanço daquela que era uma das mais ansiadas. Em termos paisagísticos é sem dúvida um país excepcional, mas mais porque concentra várias paisagens numa só ilha. Os fiords, por exemplo, não devem ser mais impressionantes que os da Escandinávia, os lagos e montanhas dos Alpes não devem ficar muito atrás destes e até mesmo o parque natural da Arrábida e a sua costa, não ficariam a dever muito ao Abel Tasman national park e a sua costa dourada, se fosse gerido como deve de ser. Acho que isto é o melhor da NZ, pode-se surfar de manhã e à tarde fazer uma descida numa estância de ski ou subir a um pico de montanha.

Mas porque expectativas muito altas podem levar a desilusões, aponto como pontos negativos da ilha sul da NZ o elevado número de turistas e a falta de cultura. É difícil encontrar um “off the beaten trail” para viajar e até os Maori (que se concentram na ilha Norte) se renderam às evidencias e vendem tours para se experimentar durante umas horas a cultura deles guiados por Maoris de camisa (não obrigado). Mas não me apanhou de surpresa, estava já à espera de algo parecido, especialmente depois da viagem na Indonésia sabia que nada iria ser como tal. Mas sei também que “off the beaten trail” existem em qualquer lugar e NZ não será a excepção. Mas aqui requerem tempo e dinheiro ou conhecer locais para aceder aqueles sítios mais remotos e aí caminhar durante vários dias. Mas os únicos Kiwis que conheci eram da ilha norte e estavam na ilha sul a fazer turismo...

Fiquei triste com o performance do meu joelho, que me levou a abandonar as caminhadas no Mount Aspiring National Park mais cedo e por isso nem sequer fui visitar a ponto mais alto da NZ e de toda a Australásia, o Mount Cook com 3755m para evitar a tentação de fazer a ascensão. Mas por outro lado, se assim não fosse não tinha aproveitado a costa norte e também me iria embora com um sentimento de que algo faltou. O que ainda ficou por ver só na ilha sul dava para preencher uma outra viagem. Se um dia volto aqui ou não????? Depende da companhia....