
Li num artigo intitulado "O cérebro e a noção do tempo" que o cérebro humano mede o tempo por meio da observação dos movimentos dos objectos, pessoas, sinais naturais e da repetição de eventos cíclicos, como o nascer e o pôr-do-sol. De acordo com o mesmo artigo, os anos tendem a parecer que passam mais rápido com a idade devido à repetição de experiências e observação de movimentos exactamente iguais a anteriores. O cérebro deixa de processar conscientemente essas repetições, automatiza pensamentos, apaga experiências repetidas que no final deixam de contar no índice de eventos do dia.
Pelo contrário, quando éramos miúdos vivíamos constantemente experiências novas, aquelas que fazem a mente parar para pensar e processar a informação, o que fazia com que o dia parecesse ter sido longo e cheio de novidades, e os anos, esses então pareciam que duravam eternidades.
Resumindo, o que faz o tempo parecer que acelera é a rotina. Quanto mais rotineira a vida, mais difícil se torna de quantificar novidades do dia-a-dia, da semana ou mesmo do ano que acabou de passar num ápice.

Mas rotinas acabam por ser inevitáveis e até mesmo essenciais, já que facilitam muita coisa na vida e acima de tudo permitem ao pobre do cérebro entrar em modo automático aqui e ali. Só que muitas pessoas não conseguem viver sem esse conforto que a rotina oferece, sem esse modo automático e acabam por viver um livro com muitos capítulos repetidos. Não quer isto dizer que a qualidade de um livro com capítulos repetidos tenha que ser inferior a de outros livros com capítulos mais diversos. De facto, se os capítulos são fáceis de escrever e o assunto até é interessante, porquê mudar? Aqui e ali fazem-se uns pequenos ajustes, adiciona-se uma nova personagem de vez em quando e conseguem manter a antenção do leitor. Mas algumas pessoas são mais desconformadas e imaginam para a sua vida um livro com diversos capítulos que contam diferentes histórias, umas boas outras nem por isso, mas que valem por ser diferentes entre si. E no final, apesar de ter aproximadamente o mesmo número de páginas que os outros, é um livro que leva mais tempo a ler, dando a sencação que é mais longo. E importante, um livro que não se consegue adivinhar facilmente o final até se lá chegar.
O que me fez sair “temporariamente” do nosso pequeno rectângulo de conforto não foi o descontentamento com as minhas rotinas. Também sou uma pessoa que gosta do conforto de voltar Aqueles mesmos sítios de sempre e de sobretudo poder estar com Aquelas mesmas pessoas de sempre. Gostava das minhas rotinas cíclicas das estações do ano:
o sentir a chegada da Primavera no Barrocal Algarvio

Tudo muito bom e outro ano começava e mais do mesmo bom, e depois mais, e mais... E como era mesmo bom, foram precisos muitos anos para ganhar coragem para arriscar baralhar as minhas rotinas e voltar a dar, de experimentar novos sinais do passar tempo, de escrever outros capítulos da minha vida, e talvez até de sentir que “parece” que o tempo demora mais a passar.
Olhando agora para trás, foram muitos os sítios que descobri, experiências que vivi e que faziam parte do meu imaginário, pessoas diferentes que conheci, vindas de diversos lugares, com maneiras diferentes de ser, que cozinham pratos diferentes, que sorriem (ou não) com piadas diferentes... De acordo com a tal teoria da noção do tempo, este período deveria parecer que levou mais tempo a passar, tal e qual como quando éramos miúdos. Mas e então onde mora a teoria do que “o que é bom acaba depressa”? Parece que sinto que levou mais tempo a passar, mas que passou depressa... Para baralhar ainda mais esta equação, se os primeiros meses na Austrália foram nesse modo criança, depois de voltar da Nova Zelândia encarrilei na rotina do dia-a-dia de trabalho em Townsville e o tempo passa a correr entre trabalho e algum lazer de fim de semana aqui ou ali. Sinto que o tempo está a passar rápido, mas neste caso não é porque o que é bom passa a correr...
Não é que esta minha rotina seja má, mas confesso que, um ano depois e ao começar a sentir aquela sensação do assentar, que a qualidade da minha rotina fica aquém daquela que tinha aí nesse cantinho confortável. Mas é sabido que nunca dá bom resultado começar com uma nova a pensar na ex e que não se devem fazer comparações directas entre elas (refiro-me às cidades, claro está). Tem que se estar preparado para abdicar de umas coisas para se ganharem outras. E depois de dar algum tempo à nova não nos adaptarmos, há duas opções: escolher outra e mudar outra vez ou voltar para a anterior (esta última dizem que nunca funciona). Eu cá vou tentar trabalhar numa terceira opção, estar comprometido com as duas para poder estar com elas em diferentes alturas do ano. Tenho consciência da dificuldade desta hipótese funcionar, implica sempre uma certa flexibilidade e até um certo parlapier para se agradar os dois lados, mas tenho que experimentar e trabalhar nesse sentido. Este próximo ano vai ser decisivo nesse campo. Entretanto é continuar em busca de experiências e aventuras para que a rotina com a nova não seja sinónimo de monotonia.
Deixo agora as filosofias e trocadilhos baratos de parte e entro na secção: passado um ano como é que eu sei que estou em Townsville, Austrália, outro lado do mundo?
Porque não só se está de cabeça para baixo mas porque quase tudo é ao contrário. Conduz-se do outro lado da estrada, os travões de trás e da frente das bicicletas estão trocados, a rotação da chave na fechadura faz-se para lados opostos ao convencional, estou a dormir quando a maioria da população está acordada (e vice-versa).







Porque em pleno mundial de futebol, apenas 5% da publicidade na televisão faz alusão ao assunto e felizmente não tenho que engolir publicidades idiotas que relacionam o futebol com por exemplo detergentes...
Porque em pleno mundial de futebol fui assistir a algo mais importante que esse evento, um clássico de rugby entre Queensland and New South Wales. Fui ao pub mais característico e red neck da cidade (foi brutal) e no final do jogo tive quase que implorar para os convencer a mudarem para o canal onde estava a dar um dos jogos do mundial de futebol. Depois desta experiência em primeira mão, consegui perceber porquê que o futebol aqui não vinga. Como é que depois de ver este jogo cheio de momentos carregados de emoção e em que ninguém é expulso (pois é suposto ser um desporto para Homens)...
Estou meio sem palavras...gostei muito do texto. Que o tempo tem várias dimensões não è novidade para mim, mas que podemos eventualmente controlar (extender o tempo através de um cotidiano com mais e novas experiências) isso é algo novo para mim, mas a ideia agrada-me e faz-me compreender alguns dos meus comportamentos e ambições. Quanto ao lado emotivo da questão (não é que o primeiro não o seja) vejo muitos motivos para estares e ficares por ai mais uns tempos, mas obviamente que gostava de te ver por aqui um dia destes. Grande abraço amigo. Bernardo
ResponderEliminarComo eu gosto de tentar fazer ver a tanta gente, (parte d)a resposta está nas neurociências!!
ResponderEliminarMeu brother do sul, este texto merece um grande BRAVO com sotaque francês e aplausos em pé.
Todos os leitores deste buog se conseguirão concerteza rever naquilo q dizes. Cá para mim, o caramelo da foto da neve com o nome de medicamento para 'cumprimento de funções' estampado no casco estará particularmente anuindo em sinal de aprovação.
Grandes abraços e até mais logo.
Uau! Embebeda-te ou...vai nadar com baleias anãs anãs :)
ResponderEliminarGostei das imagens do desporto para Homens... não é "ai ui o futebol (ou as vindimas)"
ResponderEliminarMuitas saudades. Espero que possas vir e ir para que possamos ter-te cá, pois fazes falta.
Grande abraço da Papaia Gigante! Um grande monumento!! :)
Aproveita o melhor de todos os sítios, de todas as situações! Não deixes de desfrutar do que se te apresenta todos os dias apenas pensando no que farias se estivesses em qualquer outro lugar! Mas não nos esqueças :) nem esqueças nada do que até agora viveste. Aproveita o que viveste para desfrutar do presente. Quanto ao futuro? Está nas tuas mãos :) pelo menos uma grande parte.
ResponderEliminarSnifff... saudades!
1000 beijos e 1000000 de sorrisos
Amigo Filas!
ResponderEliminarSó te digo uma coisa: Se alguma vez a ciência te correr mal, terás sempre futuro a escrever crónicas do quotidiano delirante. Os leitores estão assegurados.
Abraços de longe (por enquanto).
Eu achei o texto muito bonito e fiquei muito emocionado :
ResponderEliminarEu gostei muito das seguintes partes :
- o filas com um chapéu de cauboi
- o restaurante nando onde servem frango e coisas portuguesas muito boas
- da papaia grande
-do hiundai Lontra com a placa a perguntar às pessoas se ainda falta muito
- gostei muito da cena de pásada do jogo de futebol deles. Deu-me vontade de esmagar bichos!
- gostei muito do comentário do meu primo saraiva que tem jeito para as palavras
Não gostei que eles não gostem de pessoas novas lá : o budi vai pra lá passar as férias e ainda leva porrada de um jogador daqueles mal dispostos! e olhem que eles são muito grandes !!
Bom saber que tens amigos sentimentais. O que tu queres sei eu. Por falar nisso, ja te disse que gosto muito de ...?
ResponderEliminarO meu comentario segue no link abaixo:
http://www.youtube.com/watch?v=CaVC5_TfRAE
Merci bien pour tout...
ResponderEliminarJose Fiel, fizeste-me rir tanto esta manha com esse video.... Viva rir e vivam as memorias boas...
a hahha hahA hahha ! o filme tá muito bom !
ResponderEliminarViva a classe ! grande Peter Faithfull !
..muito bom ler.te!..seja rotina ou não..a escrever assim..só te pode estar a fazer bem ;))..beijo enorme!going to reply to your message..
ResponderEliminarPoxa, fiquei também algo sentimental ao ler... mas concordo plenamente com o Nuno... podias ser um Veríssimo português!
ResponderEliminarTenho muitas saudades tuas e espero que em breve a gente possa deixar de se falar apenas virtualmente... meanwhile, aproveita bem o teu tempo real aí!! Porque passe rápido ou devagar, ele se vive na 1ª pessoa do singular!
Bjuuus
Zé das holandas, esse video merece um Oscar... quem sabe até 2 ou mais.
ResponderEliminarDassssss!
ResponderEliminarMas será que ninguém vê o essencial??????
GAJAS!!!! Alguém viu???..... e as fotos é com os "amiguinhos" (e os videos tb...!)... a olhar o por do sol... e depois chapéuzinhos abichanados, ao melhor estilo brokeback mountain!!!!
Já vi a coisa melhor parada!!!!
O tempo.... bem, sobre esse tirano, o Einstein tb se deu ao trabalho de escrever umas coisinhas...
E agora só quero ver como é que vais manter as duas animadas! Para isso, cá te esperamos!
Beijos e abraços de "los 4 magníficos del Peral"!!!!
bom....mais vale tarde que nunca...
ResponderEliminare porque ja sabes que gosto muito de ti e fico focido contigo tão longe não queria nem olhar para o teu blog...
mas depois de ter lido ...fico com mais saudades tuas meu amor...
a verdade é que tens jeito para escrever...
mas tens ainda mais jeito para deixar te querer cabron !!
abrazo muito forte
javier