quinta-feira, 23 de julho de 2009

Zee place and mee house

E lá foram duas semanas em Townsville. É pouco tempo para escrever algo acerca do sítio ou sobre o que tenho feito. São alguns os factores que contribuem para a falta de fonte noticiais. Para vos tentar situar, lá vou eu entrar em analogias e divagações daquelas "out of the blue".

Imaginem-se vocês um Australiano(a), que de repente resolveu fazer uma pausa no seu quotidiano e deixar temporariamente para trás o seu país natal para emigrar para Faro, Portugal (sortudo). Para ficar instalado perto do sítio de trabalho (no campus de Gambelas) arranjam-lhe uma casa na Quinta do Eucalipto. Não te podes queixar, vives numa bela vivenda no meio do mato, com um jardim que (neste caso) tem árvores tropicais (mangas, papaias, bananas, tangerinas), está separada de um belo rio por um jardim que é sobrevoado por aves tropicais e que tem barbeques públicos aqui e ali. Não estás nada mal, ein? Estás é a cerca de 15 km do centro da cidade e coincidentemente não existe um sistema de transporte públicos eficiente. A juntar a isto tudo, é o pico do Inverno e às 5:30 começa já a ficar escuro. Sem carro, vocês, o Australiano(a), ficariam apeados entre a vossa bela casa na Quinta do Eucalipto e Gambelas (seria a maior loucura de todos os tempos...). Existe uma diferença entre os dois cenários, aqui em Townsville posso ir de bicicleta para a cidade (durante cerca de 50 minutos) ao longo de um caminho que ladeia o rio (este sem crocodilos), enquanto que o Australiano aí, teria que pedalar entre carros, monóxido de carbono e cruzar the beautifull Blackhill.

Por isso de downtown pouco conheço. Basicamente apenas fui à grande avenida “the strand” que fica na praia, uma zona de lazer com palmeiras ao longo da praia para pedestres, ciclistas e skatistas passearem ou praticarem o desporto, uma cena muito States, muito boulevard (aliás isto é tudo muito States). Pensava eu que vinha para a zona da grande bareira de coral com clear cristal water, mas trata-se de uma praia em que a água do mar é meio acastanhada e só se pode tomar banho nesta altura do ano, já que de Outubro a Maio é a altura das stingers e só se pode tomar banho nas piscinas do Strand ou em pequenas zonas enclausuradas por redes.
Da vida nocturna, das três vezes que lá fui a meio da semana, é uma cidade sem movimento, a maior parte dos sítios que vendem comida (não lhes chamaria restaurantes, mais tipo fish, burger & chips) fecham entre as 8 e as 9 da noite e os pubs estavam praticamente vazios. WELCOME TO AWSOME TOWNSVILLE they told me ironically... Mas logo de seguida veio a justificação, “ah e tal trata-se do pico do Inverno, é a meio da semana e ainda por cima é uma época de férias dos estudantes” (bem não é muito diferente de Faro). Mas então perguntam vocês “mas é só de estudantes que vive a cidade?” Não, não, tem também alguns turistas que aqui vêm apanhar o ferry para a Magentic Island aqui em frente, mas na sua maioria são militares (aqui tem uma das maiores bases militares da Austrália) e mineiros (extracção de metais). Interessantes ingredientes para fazer da noite de Townsville uma animação, só que ao que parece, sem as estudantes falta-lhes o motivo para desencadearem as tão famosas cenas de pancadaria que caracterizam os pubs Australianos e, ao que parece, está bem caracterizado aqui em Townsville. Anseio pela chegada dos estudantes para assistir a esta realidade de Townsville, ah e já agora de ir também ao pub que se orgulha de ter o mais longo concurso semanal a nível mundial da miss T-shirt molhada.

Mas enfim, são apenas os primeiros tempos, não preciso de muita animação, preciso sim começar de encarrilar a minha nova vida, comprar o que me faz falta para me começar a instalar, já que apenas trouxe uma mochila com alguma roupa e a minha almofada de sempre (mas nem ela conseguiu evitar os sintomas do jet lag nas primeiras noites) e começar a chamar a isto casa. Mas passando duas semanas, estou ainda no campo das intenções, já que não é fácil gastar os meus dolares Australianos numa terra em que as lojas fecham às 5 da tarde (toc, toc, toc...). Tive que folgar um dia para procurar uma cama decente e no final consegui gastar mais de 500 euros para trazer um colchão, um estrado e o melhor uns lençóis “Egipcian” com um toque tipo seda com cor preta, ui, ui... (incrível o que me conseguem vender).

E queria ficar-me por aqui no que às primeiras impressões diz respeito e voltar apenas mais tarde. Deixar acumular alguns fins de semana e (espero eu) algumas histórias e aventuras aqui downunder. Mas não consigo resistir à tentação de partilhar o highlight do meu primeiro fim de semana em Townsville.A cidade foi “host” pela primeira vez de uma das etapas de um importante campeonato nacional de corridas de carros, os V8 Supercars. Confesso que não sou, e nem fiquei, adepto de desportos motorizados, mas era uma excelente oportunidade para poder ver milhares de Townsvilenses e outros Queenslanderenses excitados com tamanho acontecimento na cidade para verem carros a ultrapassar a barreira dos 300 km/h em pleno circuito citadino. E valeu bem a pena ver milhares deles a exibirem os seus melhores chapéus tipo cowboy e com todo o merchandaising alusivo ao evento que orgulhosamente compravam das suas equipas preferidas. Eu também tive que me juntar a uma equipa e depois de muito escolher, juntei-me à Jim Bean Team como podem perceber porquê pela foto. Mais lindo de tudo, foi ter ido com um convite para assistir a todo este cenário da tribuna VIP. Lá estava eu no topo de uma varanda por cima da linha de partida/chegada a comer do bom e do melhor, no que ao marisco diz respeito e a experimentar quase todas as cervejas que cá têm. Tudo isto sem ter que desembolsar um dólar australiano, afinal sou ou não um cientísta internacional convidado....
Se tiverem pachorra e quiserem ver imagens de vários ângulos da casa, do meu sítio de trabalho ou da baixa da cidade, dêem graças ao Big Brother e copiem o link abaixo:
http://maps.google.com.br/maps?f=q&source=s_q&hl=pt-PT&geocode=&q=1+Nisbet+Crt,+Aitkenvale&sll=-19.305848,146.761736&sspn=0,359.997586&ie=UTF8&ll=-19.306131,146.763214&spn=0.00724,0.009656&z=17&iwloc=A&layer=c&cbll=-19.306039,146.763231&panoid=_d8i-GHqM4VXCr1WDYlKsA&cbp=12,88.32,,0,9.2

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Portugal, a period of transition... (queriam ler Austrália, mas levam primeiro com Portugal e lamechices)


Da Indonésia, e logo a meio caminho de Down Under, fazia todo o sentido continuar a viagem rumo a Sul, afinal estava mesmo ali em baixo. Pouparia umas dezenas de horas em aviões e aeroportos (arghhhhhh...), consequentemente umas centenas de euros, teria a adaptação ao diferencial horário já muito avançada, mas acima de tudo ia à boleia do espírito viajante, tão entranhado que estava na altura (aqui entre nós, confesso que me apetecia continuar a viagem). No entanto, uma escala em Portugal era mandatária para concluir o longo processo burocrático do visto para a Austrália. E olha para mim, triste por ter que fazer uma escala num país que tão bem conheço e adoro, ainda por cima em pleno início de Verão e ter que passar bons momentos com a grande família. Tinha aqui a oportunidade de revisitar sítios e pessoas que gosto e de poder dizer um “até já” à altura antes de partir, já que não tinha sido possível antes. O grande risco que corria era o de começar a enraizar e de se tornar difícil dizer o “até já”.


Durante os dois meses em Portugal parecia um turista estrangeiro a absorver todos os sítios por onde passei (podia inventar uma letra para uma música pimba sobre emigrantes...). Temos um tão rico património num tão pequeno pais, como em poucos sítios por onde já passei. Não quero com isto dizer que não se deva ir lá fora (que moral tenho eu para dizer isso), nem que seja para dar mais valor ao que temos em casa.
O Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina por exemplo, poucos serão os sítios no mundo com um tão bem conseguido conjunto de praias, falésias, clima e gastronomia.
Um outro exemplo, o Parque Natural da Serra Peneda-Gerês. Muitos sonham em visitar a Nova Zelândia por causa das suas paisagens naturais, mas nunca foram ou pouco conhecem o interior deste parque. Não quero fazer comparações directas, até porque AINDA não conheço a NZ (mas num futuro próximo dedicarei uma secção à NZ, mhuhuaaahaahaa), mas faço um apelo aqueles que gostam e respeitam sítios destes – VÃO AO GERÊS, VÃO MESMO!!!!!!!

Mesmo para os que não são atraídos por paisagens naturais verdejantes ou por cascatas e lagoas de água cristalina, tem a oportunidade única de passar por aldeias onde já só restam os anciãos, cheios de histórias para contar, de ir à conversa com pastores na sua caminha diária para controlar a difícil convivência com os lobos. A vantagem é que estas tribos falam a nossa língua (com “ligeiro” sotaque) e têm uma excelente gastronomia, não é preciso comer toupeiras ou larvas de formiga para se sentirem integrados. Tudo isto vai desaparecer em breve e vão restar apenas aldeias desertas com casas de estrangeiros adaptadas ou casas de turismo rural. Isto são apenas dois exemplos, podia estender-me aqui com textos sobre as margens do Guadiana, as ilhas barreira da Ria Formosa, das conversas com os sargaceiros nas praias do norte durante a quase extinta actividade tradicional de apanha de algas, das paisagens exuberantes das ilhas da Madeira e dos Açores.

Finalmente, o poder estar novamente com (quase) todos vocês foi para mim algo especial. Amo verdadeiramente a minha grande família e se nunca saí antes de Portugal deve-se maioritariamente a vocês, mas pronto agora já estava um bocado farto de vocês e teve que ser... Ficam para breve as primeiras impressões da Aussielandia e em particular de Townsville. O que posso dizer para já é que é maior do que esperava, tem um douwntown muito Boulevard e passei o meu primeiro dia a visitar lojas de colchões e camas, para poder começar a ocupar o meu espaço.

domingo, 26 de abril de 2009

Bunaken, o paraíso final

Do mar para a terra onde nos esperava um pequeno almoço “dos bons” (ai saudades de pão, iogurte e cereais), uma viagem em carrinha de caixa aberta com os locals até à vila mais próxima e dessa vila um bus até Manado.
Tínhamos 3 dias pela frente antes do vôo e nem penar passá-los no caos urbanístico de Manado. Foi chegar e apanhar logo um barco para o Parque Nacional de Bunaken, uma ilha off-shore Manado a apenas uma hora de barco. Este parque nacional é reconhecido a nível mundial pela qualidade do mergulho que oferece. E não enganou, foram 3 mergulhaços no azul ao longo de paredes verticais de coral sem fundo à vista ao sabor de uma leve corrente que faziam com que os mergulhos fossem feitos sem qualquer esforço e logo duravam 90 minutos (e sem fato...). Para além da elevada diversidade de coral e as constantes paredes densas de peixinhos de coral às cores num fundo azul, vimos passar tubarões de pontas brancas, tartarugas, barracudas, atuns, lírios, giant trevallis, napoleões e já no final do último mergulho passeava-se entre os corais a minha companhia da viagem a cobra marinha... Já só me faltava vê-la no seu habitat natural...

Queriam ver fotos disto tudo????? Também eu... Mas nesta altura já tinha chegado à conclusão que tirar fotos no azul com a minha máquina era uma perca de tempo e estava apenas a correr o risco de perder pormenores do mergulho. Por outro lado, nesta altura a máquina já ficava quase sempre esquecida, já que o meu dia-a-dia começava a ser repetitivo: selva, ilhas, mergulho, primatas, outra vez mergulho e depois selva, ahhh...


E com esta rotina chata chego ao fim deste loop na viagem da minha vida. Não me vou alargar em conclusões lamechas, até porque esta é apenas o final de uma etapa de uma viagem/aventura que se prevê mais longa. Quero apenas deixar aqui registado que hoje (numa das 16 passagens por aeroportos), ao passar o filme da viagem na minha cabeça, chego à conclusão que ela correu bastante melhor do que as expectativas que eu tinha criado inicialmente. E eu, quando anseio algo e fico a matutar nisso durante muito tempo, crio sempre expectativas demasiado altas quase sempre difíceis de satisfazer... Estou também orgulhoso pelo facto de ter começado e não ter desistido de escrever umas (por vezes muitas) linhas neste espaço para quem quisesse viajar comigo. Ainda que apenas uma só pessoa tenha acompanhado a viagem por inteiro, já valeu a pena. E as essa(s) pessoa(s) peço desculpas por introduzir a informação em blocos gigantes de mês a mês, mas isto de escrever, seleccionar e reduzir tamanhos de fotos dá uma trabalheira... Até jazz...

Tangkoko National Park, house of primates

Depois de um outro mergulho matinal em Lembeh, subimos até ao extremo norte da ilha para entrar na floresta do Tongkoko National Park e tentar avistar os black crested macaques no seu último reduto natural (sim, porque os que se podem encontrar no mercado de Tomohon não contam) e os Tarsius, o mais pequeno de todos os primatas. Este parque é também famoso por abrigar várias espécies de aves endémicas, um paraíso para birdwatchers. Para aumentar as probabilidades de ver toda esta bicharada, propusemos a um guia que nos levasse num treking na floresta durante dois dias. Resultou em cheio já que vimos quase todos os highlights. Ainda por cima o overnight foi feito numa bela praiinha de areia preta (já tinha dito que isto é vulcões por todo o lado?) com mar azulão (sim, a selva aqui entra quase pelo mar adentro). Só foi pena não termos visto os macacos virem até à praia para tomar banhos de mar como, segundo o guia, por vezes fazem.

Depois de montar as tendas ainda de dia, tempo para ir em busca dos Tarsius que saem ao lusco fusco em caça dos insectos, parecem Yodas saídos da guerra das estrelas. Chegada ao acampamento de noite, esperava-nos um banho nocturno no Pacífico a 30 ºC e uma sopa de noodles com arroz (nham, nham...). Já à volta da fogueira interrogávamos-nos acerca das centenas de luzes no mar. O guia dizia que algumas eram de barcos mas que a maioria eram de plataformas flutuantes usadas para pescar durante a noite, e que por acaso a sua família até inha uma dessas casas. Oh, conversa puxa conversa e quando demos por nós já tínhamos um plano para o após jungle: pernoitar e pescar na plataforma flutuante da sua família. Nesse mesmo instante ligou para alguém para confirmar e fomos brindados logo pela manhã com um peixinho acabado de apanhar na plataforma. Finalmente uma dose de proteína grelhada em brasas de fogueira para acompanhar os noodles com arroz ao pequeno almoço (mnham, mnham...).

A caminhada matinal tinha como objectivo ver tucanos mais de perto. É uma ave impressionante devido ao seu tamanhão, forma e cores que ostenta, mas difícil de conseguir uma foto já que anda sempre na canopy da floresta. Em vez de buscar uma foto da net fica aqui um desenho estilizado feito pelo Grande Sr. Desenhador de Cenas. Depois da caminhada, tempo apenas para um banho, alguma comida e lá estávamos nós a preparar o barco que nos levaria até a uma das floating houses numa praia de uma aldeia piscatória com porcos e galinhas a circular na areia e crianças a tomar banho de mar e sempre prontas para as fotografias.

A casa flutuante: uma simples estrutura de madeira tipo jangada feito com vários tipos de tábuas e troncos de pequenas árvores bem espaçadas entre si onde a única maneira de caminhar é em constante equilíbrio. Claro que para os locais com 1.5 m de altura e pés de orangotangos, era como caminhar em solid ground. Nós, tínhamos por vezes que usar as 4 patas para garantir que não caíamos dentro da rede que forra a plataforma por baixo, para onde o peixe é atraído por “super power lamps” e fica aprisionado. Lindo ou talvez não, foi que mal cai a noite, cai também uma chuvada que só parou já quase de manhã. Que belo sítio para estar à chuva... Os dois turistazinhos enfiaram-se logo no único abrigo da plataforma, uma pequena casa feita à medida deles ainda por cima com um buraco para poderem controlar o peixe na rede. Podem imaginar a bela noite que passamos ali a tentar dormir num chão de madeira com dimensões reduzidas. Já os locais estavam ali para pescar e passaram a noite toda à chuva mas em nenhum momento se puderam abrigar. Como compensação, no dia seguinte de manhã tivemos que mergulhar dentro da rede cheia de peixinhos (tipo anchovinhas) para retirar os que jaziam mortos e se acumulavam no fundo. Podem pensar “ah, mas isso até é nice”, eu também pensei isso até me aperceber que nós não éramos os únicos aliens dentro da rede das anchovas. Dei por mim a arrastar com o camaroeiro uma cobra marinha juntamente com o peixe morto... Começo a ter uma relação muito íntima com um animal que produz um veneno letal capaz de limpar o sebo a X humanos.

Happy Birthday to Gonças

Às 23:59 do dia 18 de Abril estávamos nós numa discoteca hard-core (que tirava todo o partido da tecnologia tuning dos mikrolets – alto bombanço!) da cidade portuária de Bitung. Connosco, um Irlandês com quem fizemos a viagem para Bitung, os seguranças que nos tentavam convencer dos encantos das suas “bailarinas” que povoavam até à linha do horizonte, aquele espaço comercial.

À meia noite, na varanda exterior, abrigados dos milhões de watts que bombavam lá dentro, comemoramos os meus 32 com “Bintangs” (a cerveja local) oferecidas pelos seguranças. Porém, a urgência de “desmoer” uma barriga de pedra, fruto da mistura do sumo de abacate do jantar com as Bintangs da discoteca, obrigou-nos a uma saída prematura de tão romântico espaço!


Durante este passeio nocturno deparamos-nos com alto bairro underground !!! Imaginem o antigo bairro de pescadores de Olhão, 3 ou 4 ruas de terra batida, barracas em platex com portas entreabertas a deixar passar a única luz que iluminava as ruas. Embora o ambiente cheirasse a facada, a esgoto(zinho) e as ratazanas descessem pelas paredes com extremo “há-vontade” perante humanos, o som altíssimo que saia pelas portas nada tinha a vêr com este ambiente pesado: Todas as casas eram de karaoke, todas passavam “Heavy Slow Rock” Indonésio a altos berros, com “beldades” locais agarradas ao micro a cantar cheias de feeling! Lindo!

Espreitamos para dentro de uma destas casas e logo nos convidaram para beber chaptikus, uma espécie de aguardente de palma, porém mais fraca que o saudoso medronho. Ao 6º shot apercebemos-nos que o karaoke é afinal a porta de entrada para um Universo de alterne puro e duro! Ao fim de mais 8 shots a resistir a promessas gestuais do nirvana à distancia de 50 000rp (cerca de 3,5 Euros), fomos finalmente expulsos da casa por um senhor agressivo que com gestos obscenos nos dizia que se não queríamos daquilo não éramos bem vindos! Mais um momento Kodak!


No dia seguinte precisavamos chegar a um resort, a uma loja ou centro de mergulho onde nos metessem uma garrafa às costas para mergulhar no Estreito de Lembeh. Obviamente não nos preparamos e não faziamos a mais pequena ideia onde ficaria qualquer um destes espaços. À saída do hotel a olhar para o vazio com pontos de interrogação na cabeça, toca de entrar num mikrolet ! Tivemos a sorte de apanhar talvez o melhor mikrolet de Bitung! O mais tuning, o mais rebaixado, com melhores jantes, melhor som e até com uma simulação do ecossitema de coral no interior das portas! 2 Palavras: Alto Estilo! Às oito da manhã estávamos já bombar e a dançar dentro de um pequenos WRC versão carrinha (temos altos filmes deste momento!). A partir daqui foi uma longa deambulação pelos arredores de Bitung, sempre com o melhor som que cerca de 50 speakers debitavam do interior do pequeno mikrolet, à procura dos tais resorts/mergulhos à medida do nosso bolso! À hora do almoço ainda não tínhamos encontrado nenhum budget resort/dives e o nosso driver (que entretanto já só estava ao nosso serviço) sugeriu almoço! “Então, leva-nos ao sítio com a comida mais local da zona !”. Coincidencia, fomos parar justamente ao bairro onde na noite anterior os ratos desciam pelas paredes e senhoras gordas cantavam belas musicas agarradas ao micro. Comemos alto sortido de peixes e ayam (frango) que passam o(s) dia(s) dentro de vitrines não refrigeradas ao Sol. Os molhos picantes encarregam-se de matar salmonelas, estalfilococus, coliformes e outras cenas com nome em Latim. Uma delicia !!

Mas o objectivo era ... Mergulho! E se os resorts estavam fora do nosso budget, o driver levou-nos para um um hostel enfiado numa aldeia já perto do porto que faz a carreira para a ilha de Lembeh. Daqui negociamos com um pescador o transporte para a ilha e umas horas do seu tempo para, ou fazer apenas apneias, ou mergulhos se conseguíssemos um bom deal do lado de lá. Como o pescador não percebeu nada do que combinamos, acabou por nos levar através do contexto do estreito, com vulcões no horizonte e barcos que não param, até um distante resort de mergulho (que por acaso era dos mais caros). Um cardume de seguranças não habituados à chegada de gandulagem despenteada a bordo duma chalupa de madeira, esperava-nos no deck! Felizmente o dive master chefe do resort, um neo-zelandês tambem ele back packer farto de aturar barrigudos ocidentais com material “top gear”, simpatizou e compreendeu a nossa durissima realidade. O resultado foi fazermos 3 mergulhos do melhor, pelo preço de 2 incluíndo um nocturno! O sitio único: água limpissima e areia preta de vulcão como pano de fundo para uma das mais “macro”, raras e coloridas vidas dos 7 mares!

De volta ao porto escuro em plena noite, aterramos no cais de barriga cheia... mas ainda tínhamos à nossa frente um quiosque de músicas a passar grandes êxitos “Heavy Slow” e uns 15 pescadores a beber chaptikus e a comer atum salgado com tapioca! Foi fácil conquistar o respeito de tal fauna com o ritmo a que os shots nos desciam pela garganta... A música do quiosque cresceu em volume e ritmo, sendo depois processada na forma de “break dance” ou dança do “rascasso”! Loucura no porto, no fim tinhamos uma multidão de galhardos aos saltos à nossa volta! 2 palavras : Altos Filmes!


Depois, jantar num tasco de rua e uma corrida na parte de trás de motas pelas ruas até chegar ao hostel.Nessa noite não preguei olho, ainda vivendo as memórias recentes do longo dia! Como pode a vida ser rica, diversa e divertida !


Assim foi passado o meu 32º 19 – 04. Parabéns aos pais!

Tomohon, the bloody market

Já na península Norte o objectivo era ir directo para Manado para explorar toda a região que envolve a segunda cidade mais importante da ilha durante a semana que antecedia o vôo de volta. E se era o contacto com os locais que fazia falta, levamos um verdadeira chapada cultural nas 4 + 10 horas de bus de Marisa - Gorontalo - Manado e com mais uma hora para chegar a Tomohon. Sem dúvida que a certa altura
destas viagens o corpo protesta, especialmente porque as medidas dos bancos estão feitos para eles. Mas no final, quando se olha para o ontem, são as histórias e episódios vividos com os locais que ficam mais marcados (eu sei, já começo a ser chato com este tema das viagens e das pessoas)...

A região que envolve Manado tem pelo menos uns 8 vulcões de altitude considerável, mas o de Tomohon é aquele que está mais activo e por isso o elegido para subir ao topo. Acontece que depois da estafa directa de bus para aqui chegar a horas de acordar cedo e subir ao topo ainda antes das nuvéns, fomos ultrapassados e o dia amanheceu com uma daquelas chuvada tropicais...
Já que estávamos acordados tão cedo, nada melhor do que uma visita matutina ao mercado local. Uma verdadeira experiência para todos os sentidos, difícil de esquecer, especialmente a zona das carnes. Os animais expostos que conseguímos identificar iam para além dos clássicos porco, vaca e búfalo. Ele havia cão, gato, rato, dog bats (morcegos gigantes), asas de morcego, cobras, e ah, já agora têm macacos? Sorry já acabou... Argh... ficamos mal dispostos todo o dia com o cheiro que imanava daquele mercado e que ainda hoje perdura na memória destes “westerner pussies”. Na realidade, até não me importaría de degustar algumas daquelas delicatessens, mas cão ou gato???? NUNCA, tá bem Iarinha???


As nuvens não pareciam querer ir embora desta zona montanhosa e nesse mesmo dia decidimos fazer uma curta (3h) viagem até à costa do Lembeh Strait. Um estreito entre Sulawesi e a ilha de Lembeh, que devido às suas características particulares (corrente, escorrencias de água doce e fundo de areia vulcânica) concentra um número invulgar de espécies marinhas endémicas e outras muito raras. Foi todo ele um dia inesquécivel, pelas espécies raras com quem partilhamos experiências quer dentro quer fora de água e que curiosamente coincidiu com o aniversário do Gonçalo. Assim volto a abrir um parentisis para que seja ele a descrever na primeira pessoa todo este dia.

Togian Islands, the paradise

Desta vez não apeteceu... Tinham passado apenas 5 dias das 10 horas que passamos no bus e agora eram precisos cerca de dois dias para fazer os pouco mais de 700 km até Ampanat, onde se apanha o ferry a partir da margem sul até às ilhas Togian. Solução, fretar um carro com condutor para que a viagem durasse “apenas” 14 horas. Como não abundam turistas nesta época do ano, irmos os dois naquele carro saiu-nos mais caro do que a viagem de avião KL-Sulawesi para os dois... Mas enfim, o preço a pagar para não desperdiçar o pouco e precioso tempo em escalas.

Uma noite na pequena vila fantasma de Ampanat e pela manhã 4 horas num ferry para chegar a um paraíso que nos tinha sido prometido. Um conjunto de ilhas em pleno mar das Molucas que separa a província norte e central de Sualwesi. De facto, a pequena ilha onde ficamos estava muito próximo de um dos estereótipos do paraíso (se é que isso existe). Kadidiri paradise, num pequeno resort encaixado na floresta e com frente para uma praia de areia branca, mar azul com recife de coral e ilhotas de limestone em frente. Quero salientar que este foi o alojamento mais caro que eu fiquei na Indonésia. Este pequeno paraíso custava 10 euros por noite com as três refeições incluídas (estão a começar a passar-se estes Indonésios)... Os mergulhos a preços quase ocidentais, mas aqui as paredes de coral são espectaculares em termos de diversidade de coral duro e mole e de esponjas O peixe esse foi já sobrepescado e apenas à volta duma outra pequena ilha vulcânica se concentram alguns cardumes de lírios, barracudas e outro pelágicos. Só posso imaginar como seriam os mergulhos neste lugar antes de ser dinamitado frequentemente (pelo menos quatro explosões ouvimos durante os mergulhos).

Mas os paraísos são bons até se viverem todos os highlights. Como descansar e esponjar-me ao sol não estava nos meus planos, 4 dias depois de estar a fazer altos mergulhos apenas em calções (água a 31 ºC) num mar azul ou, quando fora de água, a caminhar na selva em busca dos caranguejos gigantes e descobrir outras praias isoladas da ilha ou contemplar o cenário ao pôr do sol do bungalow e interagir com outros turistas (para variar) durante a janta, começou a ficar boring... Começava a faltar-nos o contacto e as histórias com os locais, o melhor de tudo.

O problema era que para sair deste paraíso rumo ao norte só passam ferrys em dois dias da semana e consecutivos (estes Indonésios são loucos, toc, toc, toc). Ou seja, ou se fica lá apenas dois dias (pouco) ou então nove dias (nem pensar). Solução, fretar um barco com skipper até à vila mais próxima a norte, Marisa.