quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Am I living in another country now?

Esta é a pergunta que mais vezes me tem assolando o crânio durante este 3º mês de estadia em Townsville. E porquê??? Não, não será pelo facto de já estar a sonhar, pensar, escrever os títulos destes posts ou até chamar os nomes dos peixes in Inglish (como já me chamaram a atenção). Deve-se ao facto de estar continuamente a acumular património desde que aqui cheguei com a minha mochila de 40L... Em Portugal ultimamente a filosofia era “living light” (xiiii lá estou eu, se calhar isto também conta), ver-me livre de, encostar “coisas” que me acompanhavam, impulsionado talvez pelas várias mudanças de casa que implicava viver na praia de Faro (xiiii, que saudades...). Aqui, começou com a cama e colchão e já vai numa mesa de jantar com cadeiras, uma bicicleta, material de caça submarina e mergulho entre outros detalhes, que não me parece que vão caber na minha mochila quando voltar(?). Mas a pergunta chave ficou mais entranhada depois de ter “investido” no carro.
Parece que comecei a sentir as raízes. Fez-me pensar e realizar cada vez mais que sim, estou a começar uma vida num raio de um cidadezeca num outro país geograficamente situado de pernas para o ar... Mas pronto, agora tenho carro, uma nova babe, uma Hyunday wagon verde metalizada (please Gonçalo, não digas nada à minha Kangoo) que veio para ajudar este processo de adaptação e instalação.

Lembram-se daquele personagem que emigrou da Austrália para a Quinta do Eucalipto, pois bem agora tem um carro. BRAVO!!!! Já pode ir à praia, ao centro de Faro, verificar o ambiente da vida nocturna na baixa da cidade, enfim um leque de opções se abriram na sua nova vida. Mas numa pequena e pacata cidade (como aqui ou Faro) e ainda apenas com alguns conhecidos no cardápio do telemóvel, o carro vem fazer muita diferença? Foi o que tentei descobrir ao obrigar-me a passar dois fins de semana seguidos em Townsville. Digamos que apenas o primeiro tenha sido por opção, já que o segundo foi por não ter planos nem convites e acreditem que a meio da terceira semana já temia por um outro fim de semana na cidade...

Para experimentar um pouco mais da the Aussie way of life, fomos (eu e a lantra) almoçar juntos à praia num dos “barbies” que estão espalhados um pouco por todo o lado, não fossem eles os Reis do barbecue (bullshit....). Depois dumas eca-salsichas que deveriam ser grelhadas, mas que nestes barbies acabam por ser mais fritas, hora para um mergulho. Com o carro pude afastar-me um pouco mais das praias da cidade, definitivamente vou ter que arranjar uma alternativa à praia por estas bandas.
Felizmente, tenho ido algumas vezes à Magnetic island (supostamente em trabalho, hehehe) que oferece praias com mais qualidade.


E nas redondezas não faltam rios, riachos e cascatas dos quais já começo a tirar partido e a ficar um adepto dos desportos de água doce, apesar dos perigos que isso possa acarretar...

Um outro dia destes fim de semanas em Townsville, coincidiu com o décimo aniversário da construção do “strand”, a baixa renovada da cidade. O Mayor do Townsville Council passou-se da cabeça, abriu os cordões à bolsa e proporcionou aos seus cidadãos um show aéreo de calibre nacional, que aqui é o equivalente a calibre continental. Para mim, mais do que ver os aviões a fazer acrobacias, uma oportunidade para ver Queenslanders em acção. E atenção que não falo de uns quaisquer aviões, estavam cá Thunderbirs da força aérea Americana. Queensland e arredores em peso espalhado ao longo do Strand....

O azar, foi que por esta altura estava espalhada por toda a Austrália oriental a maior tempestade de areia do últimos tempos que prejudicou a visibilidade do show aéreo. Aqui ate nem estava muito mal, mas vejam como ficou Sidney durante vários dias. Impressionante como a parede de pó avança do interior para a costa.


Mais programas “excitantes” de fim de semana em TV com a minha babe.... Ah, levou-me por duas vezes à noite local, à festa, à animação, à pura da loucura... Agora sim, os bares com bares cheios e com todos os ingredientes para a farra: estudantes, militares e mineiros, quase tudo extremamente bêbado. O interessante foi notar que a maior parte dos extremamente alcoolizados são do sexo feminino, que curiosamente vestem todas muito iguais, com saltos super altos e mini saias justas e que sobem até ao pescoço, mas que como uma grande percentagem de Australianos têm excesso de peso. Também interessante é saber que elas chegarem aquele estado com muita mais bebida do que eu necessitaria para lá chegar. Para vos enquadrar, trata-se duma “Little Britain” com clima tropical... BEWDIFUL... Felizmente, e como em tudo, há excepções, sempre se encontra um ou outro bar diferentes para passar uma boa noite em Townsville. Tem uma boa cervejaria, com produção própria e com um bom ambiente onde até já lá estive com um bom amigo de Portugal, agora começam a ser os daqui.

No images, sorry.... Não gosto de ir para a noite com maquina fotográfica.

E assim é, depois de todos estes episódios citadinos excitantes podem perceber a minha aflição ao aproximar-se o terceiro fim de semana. Mas creio ser uma situação perfeitamente normal. Se não, digam-me o quê que se faz ao fim de semana numa cidade pequena e pacata? Sim, o quê que se faz em Faro ao fim de semana se não se tem muitos e/ou grandes amigos à volta? E eu nem me posso queixar, já que bastou mexer alguns cordelinhos pelos meus contactos para ir para onde, pra onde mesmo???? Isso, acertaram.... Foram mais dois fins de semana com mais do mesmo, fazer apneias no meio de milhares de peixes e corais, vi um cardume de atuns, trouxe mais dois ou três peixes para casa em cada vez, filetar um para o almoço no barco enquanto passam golfinhos à volta do barco.




Ficar cada vez mais familiarizado com o comportamento dos tubarões de pontas brancas e negras dentro de água (o truque é chegar ao peixe arpoado primeiro que eles), mas nunca ficar à vontade com o tubarão touro. Tivemos um encontro com um que tinha uns bons 2.5 metros e que nos começou a rodear, cada vez mais próximos até chegamos à conclusão que o melhor seria mudar de sítio.... Deve-se respeitar o sitio de caça destes senhores dos mares, os tais causadores de “acidentes” com mergulhadores e apneistas.... Para já apenas levei uma dentadinha dum Spanish mackerel (e não, não sei o nome dele em Português)..



Por fim (sim porque esta seca ainda nao acabou, falta um outro fim de semana), apanhei o meu primeiro voo interno até Cairns para me encontrar com o David e a Rita que vieram de Perth, do outro lado da ilha. Alugamos um carro para no levar até Cape Tribulation, no coração da Daintree Rain Forest, a mais antiga floresta húmida do mundo (mais de 135 milhões de anos) e também por isso património mundial da humanidade, o tal sítio onde os dois patrimónios se tocam, o local onde acaba a estrada alcatroada e daqui para norte só de todo-o-terreno até Cape York, o ponto mais a norte da Austrália.

Muitos atractivos para esta zona, mas na realidade atrevo-me a dizer que fiquei um pouco desiludido com a floresta em si, com a quantidade de vida e com as opções de exploração que ela oferece (se calhar venho mimado das florestas na Indonésia...). As praias por aqui também são de mangal e por isso não muito propicias para banhos já que são pouco profundas até muito fora e não é aconselhável ir muito fora porque aqui é a casa dos crocodilos que gostam de banhos de mar. Mas é brutal ver a floresta em cima de extensas praias e ver o nascer do sol no Pacifico.








Ficou-me no goto fazer a estrada de terra que segue por dentro da floresta por zona de aborigenas até Cape York e às ilhas do famoso estreito de Torres que separam a Austrália da Papua Nova Guiné. Pode ser que seja a minha primeira grande aventura na Austrália. Como estamos na época seca, ainda atravessamos os dois primeiros rios mas o terceiro já não foi possível com o carro alugado. Foi num dos riachos secos desta estrada que avistamos o highlight deste fim de semana: um Cassowary com um filhote ao lado. Estimam-se que existam menos de 2000 indivíduos, estas que são as aves mais pesadas da Austrália e que podem atingir quase dois metros.

Ninguém das pessoas com quem eu falei alguma vez viu um no natural e alguns deles já fizeram viagens só para os tentar ver. Parece que a sorte nos bafejou e passa a ser menos uma razão para eu visitar um zoológico aqui. Já no que concerne aos crocodilos de água salgada, só o vimos mesmo estampados nos vários sinais de perigo que existem nos vários rios e praias. Esta é a zona deles, mas nem no meio do mangal, nem no circuito de barco que demos, nos cruzamos com estes animais com fama de tirar a vida a quem não age “croc wise” por estas bandas. Ao que parece a carne turística é a mais apetitosa.

E assim foi mais um mês de Aussilandia. Estou feliz com o processo da minha adaptação e convivo bem com as muitas perguntas e saudades que me assaltam de vez em quando.